
No começo não era tão ruim assim, não dava pra perceber direito porque eu ainda estava meio bêbado meio dormindo, o problema foi quando eu recuperei alguns centímetros da consciência. Aquela maldita ressaca já começava a me afetar. Aquela vontade insuportável de vomitar as tripas pra fora, a boca e a garganta mais secos que o próprio deserto do Atacama e o que é, na minha opinião, pior são aquelas bigornas esmagando o seu cérebro. Mal consegui ver o que tinha ao meu redor quando levantei. Imagino como não deveria estar minha cara: olhos que não conseguem despregar e tão vermelhos quanto o sangue. Fui direto à cozinha e depois de beber inutilmente uns 50 copos d’água percebi onde eu estava:
-Puta que pariu...
Primeiro pensamento. A cozinha estava uma putaria, mas sem vestígios de ilegalidade. Quando eu cheguei na sala o segundo pensamento da manhã veio e, por coincidência ou não, foi igual ao primeiro. A sala estava até bem, a exceção da parede do lado da porta, que tinha uma mancha vermelha enorme. Inutilmente, eu rezei pra não ser sangue.
Bom, agora tudo o que eu preciso fazer é achar o corpo. Será que já o havia enterrado? Saí a procurar nos locais de sempre: armário, quarto de hóspedes, despensa e banheiro. Bem, ou eu inovei bastante ou já havia enterrado o corpo. Mais uma vez inutilmente, rezei pela segunda. Quando cheguei no cômodo que eu usava pra me exercitar foi que eu vi a novidade que eu tinha aprontado.
-Puta que pariu...
Ali eu me convenci: nunca mais ia misturar drogas alucinógenas com drogas estimulantes. Difícil ia ser deixar o vício de lado. Na maldita academia foi que eu vi que meu saco de pancadas estava encostado na parede e no lugar do saco, estava o corpo que eu tanto procurava. Pelo estado do corpo e do saco deu pra perceber que eu estava de saco cheio de bater no saco e resolvi inovar. Queria bater em algo mais parecido com uma pessoa e o que é mais parecido com uma pessoa que uma pessoa? Minha primeira reação a tudo aquilo foi rir. Eu estava cada dia melhor. Perguntava-me se eu a tinha prendido no lugar do saco de pancadas enquanto ela estava viva ou se já estava morta.
Bem, devo admitir uma coisa, todos aqueles hematomas e aquelas manchas de sangue por todo o seu corpo morto me fizeram sentir muito empolgado e excitado, se é que você me entende. A cavidade entre-pernas dela nunca me foi tão atraente, nem mesmo quando era viva. Tirei-a daquele castigo rudimentar de ficar presa pelas costas por ganchos e, depois de devidamente saciado, levei-a para o quintal, onde eu normalmente enterro os corpos quando esse tipo de situação acontece. Eu estava triste, a idéia de deixá-la no lugar do saco de pancadas me parecia tão interessante, mas logo ocorreria aquele inconveniente de visitas e essas coisas. Imagino que isso pudesse assustar as pessoas. Qualquer dia desses ainda vou montar um açougue do lado da minha casa, imagine como será mais fácil: nada de enterrar corpos e ainda vou ganhar um dinheirinho extra. Nossa! Surpreendo-me todos os dias com a minha inteligência e criatividade, são tantas idéias boas.
Tenham um bom dia.